sábado, 6 de novembro de 2010

Memória do Fogo - As Guerras Santas

As Guerras Santas

Da América chegam os heraldos da boa-nova. O imperador fecha os olhos e assiste ao avanço das velas e sente o cheiro do breu e do sal. Respira o imperador como o mar, maré cheia, maré vazia; e sopra para apressar os navios inchados de tesouros.
A Providência acaba de dar-lhe de presente um novo reino, onde o ouro e a prata abundam como o ferro em Vizcaya. O assombroso tesouro está a caminho. Com ele poderá tranquilizar os banqueiros que o enforcam e poderá finalmente pagar os seus soldados, lanceiros suíços, mercenários alemães, infantes espanhóis, que não vêem uma moeda nem em sonhos. O resgate de Atahualpa financiará as guerras santas contra a meia-lua do Islã, que chegou às portas de Viena, e contra os hereges que seguem Lutero na Alemanha. O imperador armará uma grande frota para varrer do Mediterrâneo o sultão Solimão e o velho pirata Barba Roxa.
O espelho devolve ao imperador a imagem do deus da guerra: a armadura adamascada, com rendas cinzeladas ao bordo da gola e da couraça, o casco de plumas, o rosto iluminado pelo sol da glória: as sobrancelhas ao ataque sobre os olhos melancólicos, o barbudo queixo lançado para a frente. O imperador sonha com Argel e escuta o chamado de Constantinopla. Tunes, caída em mãos infiéis, também espera pelo general de Jesus Cristo.

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